Ieda Muniz de Almeida: bibliotecas, responsabilidade social e voluntariado

Parecia impossível encontrar com Ieda Muniz de Almeida no final do mês de fevereiro. De férias, ela estava se dedicando ao voluntariado na Sociedade Vipassana de Meditação (SVM), na qual atua, segundo a amiga Neide de Alves Sordi “como uma líder abnegada, que coordena, incentiva e apoia quase uma centena de voluntários”.

Foi de repente que recebi uma mensagem de Ieda no WhatsApp. Sempre delicada, ela estava preocupada se ainda havia tempo de deixar seu depoimento para o hotsite da Medalha Rubens Borba de Moraes.

Acertamos que faríamos a entrevista pelo WhatsApp, já que Ieda retornou esta semana à Coordenação da Biblioteca da Presidência da República, cargo pelo qual ela entrará para a história da Biblioteconomia no Distrito Federal.

Não sou boa com datas”, afirma Ieda logo de cara. Então resolvemos rever sua trajetória sem nos atermos tão especificamente a épocas de forma tão precisa como as referências bibliográficas e os códigos de classificação que bibliotecários lidam diariamente.

Assim como outros colegas de sua geração Ieda não deixou de referenciar Laís da Boa Morte. “Eu fui estagiária da Dona Laís, afirma orgulhosamente. Foi um divisor de águas na minha formação, pois naquela época o Ministério da Fazenda era uma referência em informação. Foram anos de muito aprendizado, pois Dona Lais, além de elegantíssima era exigente e muito séria”.

Ieda durante a década de 70 ainda faria mais dois estágios, um no extinto CEMEC, do Ministério da Educação, no qual trabalhou no processamento técnico de teses brasileiras, e na Embrapa, instituição pela qual foi aproveitada para o cargo de bibliotecária, uma vez que não havia a exigência de concurso naquela época.

Trabalhei no processamento técnico e depois durante anos no Banco de Bibliografias da Embrapa. Foi um aprendizado maravilhoso. O bibliotecário tinha que conhecer o produto que deveria entregar aos pesquisadores. Havia uma necessidade de conhecer o negócio da instituição e sabíamos como a Embrapa realizava seu negócio. Só posso dizer que esta época foi intensa. Depois veio a Presidência…”

Curiosamente, Ieda não foi trabalhar logo de cara na Biblioteca da Presidência, pois o convite de trabalho era para trabalhar no projeto Memória dos Presidentes. Foi somente no final da década de 80 que Ieda passou a fazer parte do time de bibliotecários da Biblioteca da Presidência. “Nessa época, as pessoas não conheciam a Biblioteca da Presidência, uma biblioteca histórica criada no governo Wenceslau Brás. Promovi atividades culturais ligadas ao livro e a leitura e exposições para promover a ida das pessoas a biblioteca, conscientizando-as que havia um espaço físico a disposição de todos para estudar e obter subsídios para as atividades que elas exerciam no trabalho”.

De certo modo, estas atividades foram embriões do Programa de Qualidade de Vida da Presidência da República, o que não impossibilitou a Biblioteca de exercer com relevância seu papel de unidade de informação especializada. Algumas realizações da década de 90 foram a automação da biblioteca e o projeto que deu origem ao livro Avaliação de Software de Bibliotecas, que escreveu com Adelaide Muniz de Almeida, Eulina Gomes Rocha e Wilma Garrido do Lago.

Durante os anos 2000 a Biblioteca da Presidência da República atuou nos projetos da casa que envolviam responsabilidade social. “Isso surgiu naturalmente, pois foi solicitado que a biblioteca da PR participasse com sua expertise em livro, leitura e cultura”.

Neste período, houve projetos como o Escolas-Irmãs que aproximava crianças de realidades diferentes. Foram implantadas bibliotecas no Santo Antonio do Descoberto e Sol Nascente e vários pontos de leitura em São Sebastião. “Sei que algumas tem caminhado bem e fico feliz por isso, mas hoje não acompanho os resultados. Também teve outros projetos como “Uma hora para ler e Ouvir” para os servidores da Presidência”. E oito anos de” Dia do Bibliotecário” realizados na Presidência que contribuíram sensivelmente para a reflexão da profissão. Por isso, me sinto realizada, quando revejo minha trajetória, pois sei que a biblioteca é uma referência e bem consolidada na estrutura organizacional da PR”.

Quando discutimos o futuro da profissão Ieda é assertiva e afirma que o bibliotecário deve buscar aliar tecnologia ao estudo dos métodos e técnicas da Biblioteconomia, pois “hoje todo mundo se acha profissional de informação…todo mundo acha que entende tudo, que sabe fazer biblioteca, que podia ser assim ou assado. O profissional precisa estar atento a isso. No que diz respeito a bibliotecas, o bibliotecário tem que ditar as regras do mercado e não deixar outros profissionais ocuparem nossos espaços”.

Ieda também se diz satisfeita com a nova geração de bibliotecários. “Há jovens brilhantes, bibliotecários brilhantes ocupando novos espaços e isso é o que importa. O desafio de ser bibliotecário no Distrito Federal reside no fato que Brasília é uma cidade administrativa, então é óbvio que há um mercado excelente para bibliotecários. Concursos e empregos com bons salários existem, mas tampouco importam se o bibliotecário não se sentir satisfeito com o que realiza”.

Alguns depoimentos sobre Ieda Muniz de Almeida de seus amigos, colegas de trabalho e colaboradores:

Adelaide Ramos e Corte

Amiga sincera, ser humano ímpar, justa, humana e profissional exemplar…Quer mais???

Célia Maria de Almeida

Ieda é competente e dedicada! Uma líder com excelentes qualidades! Profissional brilhante! Há que se destacar a solidariedade e responsabilidade social, marcantes em sua personalidade, evidenciadas pelo trabalho de incentivo à leitura a crianças necessitadas. Ela é admirável!

Neide de A. Sordi

Eu já conhecia a Ieda bibliotecária e nos últimos três anos tive a oportunidade conhecer a Ieda, diretora na Sociedade Vipassana de Meditação (SVM), uma líder abnegada, que coordena, incentiva e apoia quase uma centena de voluntários. A SVM busca ensinar a meditação para erradicar o sofrimento e, consequentemente, buscar a felicidade. Graças ao trabalho dos voluntários da SVM milhares de frequentadores das Sanghas buscam a paz por meio da integração do corpo de da mente. A Ieda está na SVM desde o seu começo e tem um papel decisivo no processo de melhoria da qualidade de vida de milhares de pessoas”.

José Antonio Machado do Nascimento

Eu dei trabalho para a Ieda por que quando somos jovens queremos fazer tudo. O que mais aprendi com ela foi paciência por que nem sempre a gente consegue fazer tudo que a gente quer em uma biblioteca. Também foi na PR que aprendi a fazer biblioteca com papel social. Lembro com muito carinho da época do Escolas Irmãs e das aulas de informática para os professores da Miriam Peles Ervilha”.

Iza Antunes

Ieda ama sua profissão, parceira incontestável do movimento associativo, sempre colaborou de maneira firme com as comemorações do dia do bibliotecário. Muito pé no chão, sensata e comprometida. Concordo com a Célia, ela é admirável!”

Juliana Bermudez

A Ieda é acima de tudo uma excelente pessoa. Como chefe, ela sempre foi muito amiga, disponível para conversar e, juntamente com o resto da equipe, me ensinou muita coisa. Comecei o estágio logo depois de entrar na faculdade e ela me ajudou e ensinou muito!

Maria Tereza Walter

São 34 anos desde que conheci Ieda Muniz. Entráramos ambas para o mestrado na UnB e alguns anos depois como bibliotecária da Embrapa, pude ter o privilégio de observar e aprender sobre como ser profissional, séria, engajada, com serenidade, firmeza, determinação, mas sobretudo respeito. Respeito pelo ser humano, pelo trabalho, pela instituição. Ieda é sinônimo de equilíbrio e força. Uma fonte poderosa de energia e de aceitação do outro. Um olhar maior sobre as coisas e as pessoas. Um ser humano como poucos!