Um pouco mais sobre Fábio Cordeiro
Que tal saber um pouco mais de quem está à frente do Conselho Regional de Biblioteconomia – 1a Região. Numa conversa franca e leve o Presidente Fábio Cordeiro nos recebe online.
Biblion: Presidente, quando se viu realmente Bibliotecário? Em que situação?
Passei a me sentir realmente como bibliotecário quando fiz estágio na Biblioteca do Senado Federal. Foi em 1998, e eu era lotado na Referência. A internet não tinha a mesma popularidade de hoje, era uma coisa nova, para poucos, e aprendi muito sobre como buscar informação, checar fontes, como praticar a entrevista de referência. Bibliotecário raiz. A partir dali me identifiquei bibliotecário, apesar de só ter me tornado um de verdade em 2002, quando recebi meu registro no CRB-1.
Biblion: Como se deu a sua candidatura para a Presidência do nosso Conselho?
Eu entrei no Conselho em 2017, por meio de uma eleição suplementar. Minha amiga Antonia Veras me convidou. Foi uma época que muitos reclamavam da situação do país, era pós impeachment, e eu não queria só reclamar. Aceitei o convite da minha amiga para sair da inércia, queria fazer algo pela sociedade, melhorar as coisas de alguma forma, e decidi contribuir por meio da minha profissão. Logo em seguida veio o período eleitoral e fui convencido a montar uma chapa. Juntei vários colegas da época da faculdade e fomos eleitos. Depois de eleitos, ocorre a escolha da Diretoria entre os conselheiros, e como eu havia liderado a chapa meus colegas me elegeram para a Presidência.
Biblion: Cite peculiaridades profissionais de cada estado que compõe o CRB1?
A jurisdição é muito diversa, vou responder como foquei o trabalho em cada Estado. No Distrito Federal procurei dar visibilidade politica ao Conselho, participando de eventos, reuniões técnicas, discussões de interesse da classe e principalmente enfrentando gestores públicos pela defesa de cargos privativos de bibliotecários. Foram inúmeras situações, mas as que deram mais repercursão foram as da Biblioteca Nacional de Brasilia, quando exoneraram as Gerentes de Atendimento e de Gestão da Informação e depois quando nomearam um estudante para a Diretoria, situações que conseguimos reverter, e quando diminuiram o espaço da Biblioteca da Presidência para abrigar a Primeira-Dama, que é minha maior frustração, pois devido a pandemia não consegui finalizar a devolução do espaço, que até hoje não ocorreu.
Em Goiás procurei estreitar as relações com os profissionais goianos, e somente agora com a nomeação dos delegados que conseguimos ampliar essa aproximação. Em Goiás foi onde focamos mais a fiscalização em decorrencia da Lei 12.244/2010, e onde conseguimos mais êxitos, de profissionais contratados e de multas aplicadas às instituições que tinham bibliotecas sem bibliotecário. Sem dúvidas foi o Estado com mais casos raros, um deles o do Instituto Federal Goiano que nos processou pedindo à Justiça Federal que seus bibliotecários não fossem obrigados a pagar CRB e que nós não pudéssemos fiscalizá-los. Nossa defesa foi muito boa e eles acabaram retirando o pedido. O mais interessante é que isso aconteceu porque haviam muitas irregularidades, campus com bibliotecas onde o chefe da biblioteca era o leigo, e não o bibliotecário, bibliotecas sem bibliotecário, etc. Quando dissemos que o Reitor precisava corrigir essas irregularidades ou ele seria co-responsabilizado eles tentaram nos processar. Felizmente não conseguiram.
Em Mato Grosso o foco foram bibliotecas públicas. Temos uma conselheira muito ativa no Estado, Waldineia Almeida, e ela fez várias articulações políticas com prefeitos que levaram a abertura de bibliotecas que estavam fechadas, e em seguida, a concursos e contratações de bibliotecários. Aprendi com ela como somos necessários, como a biblioteca muitas vezes é o único equipamento cultural de uma localidade. Há cidades que não tem um cinema, um teatro, um museu, mas tem uma biblioteca. E ali passamos a assumir uma responsabilidade enorme de ser o ponto cultural da cidade. Vi nessa experiência como bibliotecas podem mudar uma sociedade.
Por fim Mato Grosso do Sul, que foi onde tivemos mais envolvimento com a Associação do Estado. Por uma série de fatores não conseguimos fazer visitas de fiscalização ali. Também foi onde nossas investidas com a Secretaria de Educação para respeitar a Lei 12.244 tiveram menos respostas. Mas foi onde conseguimos ter dois delegados, e assim ter mais colegas participando do Conselho.
Biblion: Quando invertemos o papel o Bibliotecário é um leitor/usuário consciente e participativo?
Vejo que os bons profissionais são aqueles que leem muito, que se interessam pelo conhecimento da área em que atuam e conseguem com isso apresentar mais técnica, mais engajamento e um domínio do ambiente em que trabalham. Isso os torna mais conscientes, participativos, inteirados e respeitados. Acredito que se mais colegas buscassem ler a legislação bibliotecária, os informes do Conselho, as comunicações, teríamos mais colegas conscientes da nossa atuação e seriam mais participativos nas ações em defesa da classe.
Biblion: Quais as agruras e delícias de ser o Presidente do Conselho?
Não chega a ser uma delícia ser Presidente, rs. Eu gosto de conhecer histórias, ampliar minha visão de mundo, conviver com a diversidade de pessoas diferentes de mim. Conhecer colegas de profissão dos Estados e ver as suas realidades diferentes foi o que mais me realizou nesse mandato. As agruras eu seria capaz de escrever um livro, rs. Acho que o mais difícil é lidar com os representantes de instituições, especialmente nos julgamentos, que não respeitam a profissão, que não aceitam que somos profissionais necessários e importantes para a sociedade. Cheguei a escutar várias vezes que um bibliotecário não era necessário, que uma pessoa com segundo grau faria nosso trabalho tranquilamente, ou a clássica: biblioteca pra que?
Biblion: Como o senhor enxerga as Cinco Leis da Biblioteconomia em pleno século XXI?
Eu acho que são um clássico, ainda vigente em tempos modernos. Posso estar sendo otimista, mas vejo que, a depender da tipologia, bibliotecas físicas são necessárias em muitos casos. Para essas, as Leis da Biblioteconomia são mais fáceis de visualizar. Em relação as bibliotecas digitais (virtuais ou eletrônicas, como vc preferir) entendo que as cinco leis são fundamentos teóricos para as novas situações. Gosto muito da 5º Lei, que a Biblioteca é um organismo em crescimento, pois entendo que reflete muito o nosso diferencial. Uma biblioteca física cresce visivelmente, mas uma biblioteca digital cresce sem a gente perceber como ocupa espaço, no digital. Tenho vivenciado experiências de falta de “espaço” em rede, em repositórios, de muitos dados/arquivos que carregam as bases e etc, que são situações que refletem como as bibliotecas digitais também crescem. E quem hoje não quer ter seu tempo poupado, já que o avanço tecnológico não se permite esperar? Qualquer um que trabalhe com repositórios ou bibliotecas digitais já deve ter sido perguntado pela quantidade de downloads ou de acessos, que me remete a primeira lei de que os livros são para serem usados. E as outras duas leis estão bem claras em quando fazemos uma pesquisa em que escolhemos que os resultados sejam apresentados por relevância, isso tem estreita relação com para cada leitor o seu livro, para cada livro seu leitor. Acho que as cinco leis continuam traduzindo importantes conceitos das nossas funções em pleno século XXI.
Biblion: O que precisamos rever nas nossas políticas públicas?
Temos boas políticas públicas mas que não são cumpridas. Há lacunas em algumas situações, e possibilidades de criar novas políticas em determinadas áreas, mas nada vai ser efetivo se não nos unirmos, não nos envolvermos e não nos articularmos com parceiros. Uma política, depois de aprovada, precisa de ter pessoas engajadas para o seu cumprimento, não basta apenas aprovar, é preciso lutar para que ela seja efetiva. Veja a Lei 12.244/2010, tivemos 10 anos para que ela fosse implementada, e fizemos poucas ações estratégicas para que ela fosse realmente implementada, muitos de nós simplesmente esperaram que o prazo expirasse para que bibliotecas surgissem e os empregos aparecessem. Percebi que cada Conselho Regional adotou uma estratégia diferente, que as vezes eram descontinuadas. No CRB-1, por exemplo, para cada estado foi uma estratégia diferente. Enfim, acho que precisamos rever as nossas políticas publicas existentes em conjunto, com uma visão coletiva, sem individualismos, e estudar como devemos atuar para que sejam efetivas, fortalecendo nossas instituições, articulando com parceiros que possam nos apoiar.
Quando não está Bibliotecário e Presidente do Conselho é algo que a Pesquisa Marota sempre quis perguntar algumas curiosidades pode ser?
Pesquisa Marota: Se o Fábio Cordeiro fosse uma Norma da ABNT qual seria? Ou teria compilação? 14724, afinal a gente tem que se apresentar bem.
Pesquisa Marota: Nossa Senhora da Indexação nos ajude quando?
For entrevistado a usar a terminologia correta.
Pesquisa Marota: Qual o termo que não pode faltar no Vocabulário Controlado do cotidiano?
Serenidade.
Pesquisa Marota: O Tesaurus da vida está em constante construção ou já está normatizado?
Constante construção, sempre aberto a novos Termos.
Pesquisa Marota: Quando o terno, por sinal sempre bem cortado, dá lugar ao cardigã?
Praticamente todos os dias do inverno brasiliense, já que em home office o terno está guardado.
Pesquisa Marota: Se sua mesa de cabeceira falasse, o que nos contaria?
Como meu celular vibra em cima dela, rs.
Pesquisa Marota: Para acompanhar a leitura em tempos de isolamento social, a escolha feita é um bom pote de Doce de Leite ou Nutella?
Nenhum dos dois, minha escolha tem sido os cupcakes de red velvet que aprendi a fazer nas aventuras culinárias desenvolvidas nesse isolamento social.
Presidente a Pesquisa Marota agradece por meio da Biblion esse bate-papo online, lembrando #fiqueemcasa para que logo, logo possamos aglomerar.
See you ♥♥
Bibliotecária e Cronista Ana Karina Fraga –
CRB 1/1887