O Conselho Regional de Biblioteconomia da 1ª Região (CRB-1), autarquia pública responsável pela fiscalização, orientação e aperfeiçoamento do exercício da profissão de bibliotecário(a) na Região centro-Oeste, vem a público manifestar-se sobre o artigo de opinião publicado no Jornal Opção, no dia 7 de julho de 2025, intitulado “Na lanterna da leitura, Goiânia é a capital que menos lê e precisa mudar essa realidade”.
A matéria chama a atenção para um dado alarmante: a Capital Goiana figura entre as capitais com menor índice de leitura do país, segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (Instituto Pró-Livro/Ipec, 2023). De fato, o levantamento aponta que apenas 42% da população brasileira é considerada leitora, e que o número de leitores caiu significativamente em todas as faixas etárias na comparação com edições anteriores da pesquisa.
No entanto, entendemos que a responsabilidade por essa realidade não pode recair sobre a população, como se fosse uma falha de interesse individual. A questão é estrutural, histórica e demanda políticas públicas robustas e investimentos contínuos em bibliotecas públicas e escolares, com profissionais qualificados, especialmente bibliotecários.
Um exemplo emblemático ocorreu em novembro de 2022, quando a Prefeitura Municipal de Goiânia extinguiu cerca de cinquenta bibliotecas escolares, sob a justificativa de abrir mais salas de aula e zerar a fila de espera por vagas na rede pública. É inegável a importância da ampliação de vagas no ensino básico, mas a solução não deveria ser a eliminação das bibliotecas. O direito à educação não concorre com o direito à leitura — ambos são complementares. A medida adotada visou apenas mitigar de forma precária um problema estrutural, ao passo que ignorou a legislação federal que prevê a universalização das bibliotecas escolares. Mesmo com mobilização de bibliotecários, educadores, parlamentares e da sociedade civil, a administração municipal optou pelo descumprimento da lei, em detrimento do desenvolvimento educacional de suas crianças e jovens.
A mesma pesquisa Retratos da Leitura revela que as bibliotecas são o segundo local mais citado onde os leitores têm acesso aos livros, atrás apenas dos domicílios. Porém, sabemos que muitas bibliotecas públicas e escolares enfrentam falta de recursos, acervos desatualizados, prédios inadequados e, em muitos casos, funcionam sem bibliotecários, o que compromete diretamente seu funcionamento e sua missão educativa.
A presença de bibliotecários(as) é crucial para que as bibliotecas cumpram sua função social de acesso e democratização aos livros e à leitura. São profissionais habilitados(as) para democratizar o acesso à informação, promover ações de incentivo à leitura, formar leitores críticos e contribuir para a inclusão social e digital. Ignorar esse papel é comprometer qualquer projeto sério de desenvolvimento da leitura.
O CRB-1, como órgão de representação e fiscalização da profissão na região Centro-Oeste, atua de forma contínua para garantir o cumprimento das legislações vigentes (Lei nº 4.084/62 e Decreto nº 56.725/65), que exigem a presença de bibliotecário responsável técnico em bibliotecas públicas, escolares, universitárias e especializadas. Onde há biblioteca, tem que ter bibliotecário(a)!
Reiteramos, portanto, que o enfrentamento da crise da leitura em Goiânia — e no Brasil como um todo — exige o fortalecimento das bibliotecas públicas e escolares, a valorização da profissão bibliotecária, e o compromisso dos gestores públicos com políticas culturais, educacionais e informacionais permanentes.
Sem bibliotecas de qualidade, com estrutura, acervo, recursos e profissionais habilitados, não é possível construir uma cidade leitora, tampouco uma sociedade emancipada democrática.
Conselho Regional de Biblioteconomia da 1ª Região — CRB-1
