Conselho Regional de Biblioteconomia da 1ª Região

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Vamos conhecer? Sheila Gualberto Borges Pedrosa

Vamos conhecer? Sheila Gualberto Borges Pedrosa

Biblion também faz uso das tecnologias em tempos de pandemia e nada melhor do que conversar online com quem gosta do que faz e trabalha em prol do usuário. Espero que gostem do bate-papo com a Bibliotecária Sheila Pedrosa. Boa leitura.

Biblion: Sheila Pedrosa qual a importância da Biblioteca na busca e na escolha da sua profissão?

Desde criança sempre tive muito contato com livros, através da minha finada avó, que infelizmente era analfabeta, mas sempre, sempre comprava coleções de livros vendidos por mascates que passavam na rua. Também através de minha mãe, uma cozinheira humilde, que sempre encheu seus filhos de coleções e mais coleções de Clássicos da Literatura infantil e Geral, entre outros.  Até hoje tenho uma coleção da Bíblia ilustrada, dada por minha mãe para mim e para as minhas irmãs, na data de 06/08/1993. Tive o cuidado de reformar e hoje meus filhos a utilizam. Eu gastava minha mesada aos 12 anos com gibis da Turma da Mônica, comprava e escondia dos meus irmãos para ninguém estragar minha coleção, srsrsr. Mas o universo dos livros, revistas em quadrinhos já me fascinava desde criança e segundo a moça da Biblioteca eu teimava em bagunçar a Biblioteca dela, srsrsr. Estudei boa parte da minha vida em escolas públicas. Uma escola que me encontrei e que era permitido, “bagunçar, flutuando em meio aos livros pelas estantes para procurar a obra desejada. Foi no SESI Colégio de Nível Fundamental em Taguatinga, que ao ingressar na 6 série do ensino Fundamental eu encontrei uma Biblioteca Maravilhosa, equipada com clássicos da literatura, revistas em quadrinho, mapas,  jogos educativos, entre outros. Nessa biblioteca eu me encontrei! Pegava vários livros de literatura, gibi, etc. Dessa forma os gosto pela leitura foi transbordando em meu ser. Livros como cachorrinho samba, O estudante, Meu pé de laranja lima, Polyana marcaram minha infância. No segundo grau no Centro Educacional Ave Branca o meu contato com a Biblioteca foi tenso. Biblioteca escura e fúnebre, dava até medo de entrar, porque essa Moça da Biblioteca era ainda mais brava. Dificilmente encontrávamos alguma obra literária em bom estado lá. Mas a Biblioteca que me encantava e onde eu fazia meus trabalhos em grupo, era a Machado de Assis, no centro de Taguatinga. Ali eu passava as tardes fazendo trabalho em grupo, lendo, e escutando psiuuuuuu. Nós nos empolgávamos nas mesas de grupo e acabávamos por ouvir esse velho e tradicional psiuuuuuu…

Mas eu não tinha um pingo de vergonha na cara e sempre voltava no outro dia. Os guardas à época me destestavam, porque eu sempre estava por ali quebrando o silêncio incauto da Biblioteca Machado de Assis.

Biblion: Quando e como a Biblioteconomia se torna a opção no vestibular?

Nunca sonhei em ser Bibliotecária, nem sabia que existia essa profissão, srsrrs, até escolhe-la no vestibular da Universidade de Brasília – UnB, no primeiro semestre do ano 2000. No último ano do segundo grau, em 1998 eu estava mais perdida que cego em tiroteio. O curso que eu desejava era simplesmente Medicina, na Universidade de Brasília. Passar em Medicina na UnB era a mesma coisa que ganhar na loteria, como nunca joguei nunca poderia ganhar. Eu sabia que passaria anos estudando para passar no vestibular e o que eu não tinha era condições financeiras de aguardar esses anos todos estudando. Foi então que comprei o Guia do Estudante de 1999 e li sobre o curso de Biblioteconomia. Se vc gosta de livros esse é o curso certo para vc, salários inicial: R$ 1.500,00. Eu achei que seria muito bom aliar o meu hobby de leitura e de quebra ganhar uma graninha para sobreviver, rsrrs. Vestibular feito no final de 1999, vestibular no papo, ingresso no primeiro semestre do ano 2000 em Biblioteconomia. Morei por 3 anos na casa do Estudante Universitário– CEU, porque na época não tinha dinheiro para pagar passagem de ônibus da minha casa na cidade de Valparaíso do Goiás, para Brasília. No Segundo semestre estudava pela manhã, trabalhava de tarde em diversos estágios de Biblioteconomia, fui pesquisadora do PIBIC também, tudo visando um bom projeto final de pesquisa.  Terminei o curso em 3 anos e meio, pois tinha pressa para ganhar esses R$ 1.500,00 que o Guia do Estudante tanto descrevia, srsrsr.

Ao longo do curso fui me identificando com a área de Biblioteconomia, com o cunho liberal e os ideais humanísticos da profissão, de levar conhecimento e dignidade as pessoas através do livro e leitura. Nunca me contentei com as disciplinas obrigatórias ofertadas durante o curso, eu pegava matérias nos diversos Departamentos da UnB. Principalmente na Psicologia e Administração. Atualmente entendo que o papel do Bibliotecário é muito mais social que técnico. Lidamos com pessoas, com seus sentimentos, com a busca incansável pela informação. Me considero uma Educadora Social. O Bibliotecário com proatividade é capaz de transformar o ambiente de uma Biblioteca, e proporcionar aos leitores aquilo que eles necessitam: Livros, Leitura, Atividades Culturais, um espaço confortável para permanecer, etc.

Biblion: Hoje apaixonada pela profissão, aonde podemos ver o seu trabalho de incentivo não só a leitura bem como em levar a informação? Você desenvolve algum projeto?

Eu realmente gosto muito do que faço, faço por amor. Sou Bibliotecária e se eu puder convencer cada jovem que entra onde eu trabalho que o importante é você estudar para atuar naquilo que ama, eu o farei. Se eu puder transformar o local onde trabalho, Biblioteca Pública num local de acolhimento à comunidade sedenta por informação eu o farei.

Desde 2018 atuo na Biblioteca Pública de Brasília, 312 sul. A Biblioteca Pública de Brasília – BPB, foi criada no dia 12 de março de 1990, por força da iniciativa da comunidade local e antigos servidores da Biblioteca. Foi através de um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas dos moradores das redondezas da Biblioteca à época, que a mesma passou do status de um Mercado da Sociedade de Abastecimento de Brasília – SAB para o status de Equipamento Cultural, Biblioteca. Após sua criação em 1990 a BPB, realizou de forma efetiva um trabalho social, educativo e cultural com a população local. Alunos das escolas localizadas nas proximidades da BPB, realizavam diversas Atividades Educativas e Culturais. A BPB tinha um papel social importante junto a essa comunidade que a integrava. Desde sua criação a biblioteca nunca utilizou de mecanismos excludentes para impedir o acesso de qualquer cidadão, seja ele morador de Brasília ou não. Haja vista que diversos usuários são moradores da chamada Região de Desenvolvimento Econômico – RDE ou são trabalhadores locais, estudantes locais, moradores de rua, etc. Nas proximidades da região da Biblioteca há escolas, hospitais, comércio, blocos de aptos, etc. Dessa população pode-se inferir que grande parte, já freqüentou ou freqüenta a Biblioteca Pública de Brasília.

Seguindo esse padrão de cunho Educativo e Cultural instalado ao longo dos anos na BPB, eu como Bibliotecária pensei no desenvolvimento de um Projeto voltado para o enaltecimento da música e da Cultura Popular Brasileira.

Brasília tem uma fascinante história com o estilo musical Chorinho. São diversas Rodas de Choro espalhadas por toda Brasília e nenhuma Biblioteca Pública possuía uma Roda de Choro. Foi então que num domingo visitei o Parque Olhos D’agua, na Asa norte e descobri o Projeto “Café com Chorinho”. Projeto criado e coordenado por diversos músicos voluntários moradores de Brasília e de outras cidades. E porque então não divulgar a cultura do Chorinho, através da Biblioteca Pública? No outro final de semana entrei em contato com um dos coordenadores do Café com chorinho, que se mostrou muito solícito e adorou a idéia de transmitir música através do equipamento cultural Biblioteca Pública. O Projeto “Roda de Choro na Biblioteca Pública”, teve sua primeira edição no mês de abril de 2019. Desde então fizemos 8 Rodas de Choro, uma roda por mês. Toda última sexta-feira do mês, a BPB se enche de música e alegria! Convidamos previamente os usuários, servimos um lanche onde cada um colabora com um pratinho, os músicos voluntários vão chegando, se aconchegando no Jardim de leitura da Biblioteca e a Roda acontece. A BPB possui um acervo bom na área musical e durante as Rodas de Choro, encontramos a oportunidade em divulgá-lo.

Biblion: As políticas públicas são…

Na minha opinião as Políticas Públicas devem ser criadas e desenvolvidas para facilitar a vida do cidadão. O objetivo de uma Política Pública deve ser sempre o bem comum da comunidade. O cidadão já vive no lastro da Burocracia, onde muitas vezes os seus direitos são suprimidos ou negados. A exemplo da Biblioteca Pública, no ato do cadastro dos usuários, durante o serviço de empréstimo, sempre sou questionada se aquele cadastro custará algum valor para aquele usuário, se é preciso pagar pelo empréstimo do livro, pelo acesso à Internet nos computadores, pelo acesso à Biblioteca. As Políticas Públicas devem ser criadas e desenvolvidas, não para atrapalhar a vida do cidadão e sim protegê-lo, para inseri-lo, assegurando os seus direitos e garantias descritos na Constituição Federal. Nenhum cidadão deveria ter seu direito negado ao solicitar o seu cadastro em qualquer Biblioteca. É obrigação do Estado, dos Entes Políticos e dos Gestores Públicos, pensar, planejar, desenvolver e oferecer Políticas Públicas de Inserção à Informação, Educação e Cultura aos cidadãos.

Biblion: Quando não está na Biblioteca e sim no lazer qual o gênero literário que te faz perder a noção do tempo

Eu gosto de drama, investigação, contos regionais e romances com pitadas de erotismo. Gosto também de filosofia, meditação e autoconhecimento. Mas o que adoro é Literatura infantil. A Literatura Infantil para cativar as criança, deve antes cativar os adultos. Uma boa literatura infantil é regada de bom humor, de poesia e de conhecimento geral. Gosto da Literatura Infantil de: Maria Clara Cavalcanti, Eva Furnari, Sonia Junqueira, Clarice Lispector, Lígia Bojunga, Ariano Suassuna, Ricardo Azevedo, Ana Maria Machado, Monteiro Lobato, Daniel Munduruku, Ruth Rocha, entre outros. Eu leio com meus filhos e continuo viajando junto com eles, no mundo imaginário e maravilhoso dos contos infantis.

Biblion: Se você fosse uma norma da ABNT qual seria e porquê?

Eu acho que seria a Norma de Citação: NBR 10520, porque o conhecimento está sempre em construção. Nós somos uma construção de nosso passado e presente remoto. Toda teoria que lemos hoje, foi construída arduamente no passado, através de pesquisa empírica, caracterizada pela observação e experimentação. Por isso é que devemos sempre lembrar quem é o autor de tal obra ou de tal teoria. Eu gosto de citar Sócrates: Só sei que nada sei. Pois aprendo um pouco a cada dia e espero continuar a aprender.

Biblion: Sheila Pedrosa nos conte como leitora qual a importância da Biblioteca no contexto que vivenciamos hoje?

O equipamento Cultural Biblioteca Pública, tem todo poderio de mudar o status cognitivo das pessoas. A Biblioteca se reiventou, finalmente, o antigo lugar escuro e fúnebre, deu lugar a um lugar de acolhimento, um castelo de conhecimento, de cultura e de ociosidade, sim de ociosidade, porque não. Eu tenho uma longa história de dormidas em Bibliotecas. Depois de um dia de trabalho numa loja de departamento no shopping, aos 19 anos, quando estudava na Biblioteca do CIL, escutava as aulas de inglês em fitas cassetes e acabava por dormir, nas bancada de estudo. Eu não sei por que uma mulher que parecia a Bibliotecária do desenho Monstros SA, me acordava furiosa. Não havia ninguém precisando daquelas fitas, nem daquele espaço, mas eu sempre era surpreendida pelo monstro da Biblioteca, rsrsrsr Eu nunca entendi isso! O que incomoda aquela mulher. Ela falava apenas que não podia. Nunca entendi porque as pessoas se incomodam com usuários dormindo nas Bibliotecas. No Japão isso é muito comum, as pessoas descansarem em diversos lugares. Aqui temos a Cultura de incomodar quem não está cometendo nenhuma contravenção ao adormecer num sofá ou cabine de uma Biblioteca. A Biblioteca pode ser também um lugar para não se fazer nada, para esvaziar a mente, como propõem a Meditação Transcendental. As Bibliotecas deveriam ter redes, pufes gigantes para crianças, adultos e idosos se recostarem confortavelmente.. As Bibliotecas atuais são cheias de vida! São verdadeiras Bibliotecas Vivas.

Biblion: Como bibliotecária você tem uma história pitoresca para nos contar?

Em um certo dia da execução do Projeto Roda de Choro um casal, entrou na Biblioteca, perguntando se ali funcionava uma escola, elogiando a escola. Enquanto eu respondia o casal me deixou falando sozinha e se dirigiu a mesa de lanches coletivo. O casal começou a fazer várias marmitas e guardar nas bolsas, desesperadamente. E eu fiquei sem reação, srsrsrsr. Foi então que percebi o interesse deles pela Cultura do Chorinhos, srsrsr. Deixei que eles enchessem suas marmitas e ofereci um saco para que colocassem mais lanches, depois continuei a explicar, durante 15 minutos sobre o Projeto Cultural Roda de Choro na Biblioteca Pública de Brasília, que estava acontecendo naquele momento. Diante de tamanha explicação cultural, os dois se despediram apressadamente com seus sacos abarrotados de lanche e foram embora felizes e com a cabeça cheia de Chorinho,  srsrsr.

Brasília 15/06/2020

Sheila Gualberto Borges Pedrosa, CRB1-1866

Gestora em Políticas Públicas e Gestão Governamental – Bibliotecária. Biblioteca Pública 312 sul.

Não foi uma conversa, foi um aprendizado Biblion agradece e espera logo logo receber o convite para ouvir uma boa música na Biblioteca Pública de Brasília.

See You ♥♥

Bibliotecária e cronista Ana Karina Fraga

CRB1 1/1887

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