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Crítico literário Antônio Cândido morre aos 98 em São Paulo

Autor de ‘Formação da Literatura Brasileira’, ele deu aulas na USP

Antonio Candido durante a Flip em 2011 (Foto: Flavio Moraes/G1)

O crítico literário e sociólogo Antônio Cândido morreu em São Paulo na madrugada desta sexta-feira (12) aos 98 anos. A informação foi confirmada pela Faculdade de Filosofia e Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, onde ele deu aulas no curso de Letras e era professor emérito.

O velório ocorre no Hospital Albert Einstein, no Morumbi, até às 17 h. Ele deixa as filhas Ana Luísa e as também professoras de História da USP, Laura de Mello e Souza e Marina de Mello e Souza.

Marina disse que o pai tinha hérnia de hiato no estômago, não se sentiu bem e foi internado no sábado. “Espero que a morte dele seja um momento para a sociedade brasileira pensar sobre ética, ele era um homem muito coerente com seus ideais. Eu acho que seria bonito se o Brasil pudesse colocar a mão na cabeça e lembrar da geração dele, da geração que ele representa, uma geração que prezava os valores da democracia, os ideias e se comportava conforme valores mais amplos do que interesses pessoais e privados”, afirmou Marina.

Segundo ela, o pai estava lúcido até os últimos momentos. Sobre a crise política e o momento atual no mundo, Antonio Candido “estava muito triste. Ele estava assustado com o mundo, com os conflitos, a violência, a guinada à direita no mundo”, relembra Marina. “Ele estava preocupado que tínhamos perdido conquistas e direitos”, disse ela. Igualdade em todas as áreas sociais, todos os campos, como direitos trabalhistas.

Velório e último texto

 O velório ocorre até às 17 h, em caixão fechado. O corpo será cremado em uma cerimônia para a família. Na última sexta-feira, antes de ser internado, Antônio Cândido revisou seu último texto, escrito a mão, sobre o trabalho que teve com Oswald de Andrade. O texto ainda será publicado.

A revisão ocorreu a pedido de um ex-aluno, Jorge Schwartz, diretor do Museu Lasar Segall, que foi a casa de Antônio Cândido com uma amiga e também ex-aluna, Berta Waldman, que foi sua orientanda em mestrado de literatura na USP.

“Eu levei até a casa dele a transcrição de uma palestra dele sobre Oswald de Andrade que queria publicar. Ele me disse que estava muito informal, pois era uma fala, e que tinha um texto escrito novo sobre Oswald de Andrade. O texto estava todo rabiscado, com correções. Me pediu para passar a limpo e eu disse: ‘claro, professor’. Trouxe de volta e ele fez mais correções. Ele estava bem lúcido”, disse Jorge.

Pioneiro da crítica literária

Antônio Cândido de Mello e Souza foi um dos mais importantes críticos literários brasileiros. Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 24 de julho de 1918, filho do médico Aristides Cândido de Mello e Souza e de Clarisse Tolentino de Mello e Souza.

Na infância, não estudou em escolas e foi educado em casa tendo a mãe como professora. Ainda criança, ele se mudou para Poços de Caldas (MG), e depois para São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. Também viveu na França, entre 10 e 12 anos. Em 1937, iniciou os cursos de Direito e de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Quatro anos depois, ele se formou em Ciências Sociais.

Iniciou a carreira como crítico literário nos anos 40, tendo escrito para jornais como “Folha da Manhã”, “Diário de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo”. Tornou-se livre-docente de literatura brasileira em 1945 e doutor em ciências em 1954. Em 1974, passou a ser professor titular de teoria literária e literatura comparada da USP, cargo em que se aposentou em 1978.

Obras mais importantes

De suas obras de crítica literária, a mais importante é “Formação da Literatura Brasileira”, de 1959, sobre os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro.

Também foi importante graças a seus estudos sociológicos. Analisou o “caipira paulista e sua transformação” em “Os Parceiros do Rio Bonito” (1964).

Ao lado de outros intelectuais brasileiros, entre eles Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), fez parte da criação do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980.

Prêmios

Em 1998, recebeu o Prêmio Camões, concedido pelos governos do Brasil e de Portugal, em Lisboa. Em 2005, ganhou o Prêmio Internacional Alfonso Reyes, no México.

Cândido ganhou também quatro vezes o Prêmio Jabuti, o mais importante no Brasil. Venceu por “Formação da literatura brasileira” (1960), “Os parceiros do Rio Bonito” (1965), “Brigada ligeira e outros escritos” (1993); além da estatueta de personalidade do ano, em 1966.

Antônio Cândido também foi professor-emérito da USP e da UNESP e doutor honoris causa da Unicamp, de Campinas (SP), além de professor honorário do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

Participação na Flip

Em 2011, participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). “Sou um homem do passado. Estou encalhado no passado. Se os senhores não prometerm contar nada para ninguém, ainda escrevo com máquina de escrever”, disse, durante a abertura do evento.

“Estou completamente fora do mundo literário. Nem sei quais são os autores atuais. Saio perdendo, evidentemente, mas há uns 20 anos que não leio nada novo. Nem do Brasil nem do estrangeiro. Não quero com isso dizer que os atuais não sejam do mesmo nível, só que eu não os conheço”, comentou.

Na Flip, Cândido falou ainda de seu ofício. “Estou com a vida intelectual completamente encerrada. Sou um sobrevivente. Mas fui muito amigo de Oswald de Andrade. Mas decidi vir porque a filha dele, Marília, que é amiga de infância da minha filha, me pediu”, disse.

Por – G1 São Paulo

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